terça-feira, 5 de julho de 2011

Denúncia de racismo na Ufma repercute nacionalmente

A denúncia de racismo feita pelo aluno nigeriano Nuhu Ayuba, de 21 anos, contra o professor José Cloves Verde Saraiva, 57, do curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Maranhão (Ufma), repercutiu nacionalmente ontem (4) à noite, no Jornal da Globo, e hoje (5) nos portais G1, Folha Online e Estadão Online. A notícia foi divulgada em primeira mão pelo Jornal Pequeno no último sábado (2).


O professor Cloves Saraiva e o aluno Nuhu Ayuba dão entrevista ao JP

Nuhu Ayuba, estudante do primeiro período do curso de Engenharia Química, declarou ao JP, na manhã do dia 1º, que já há algum tempo vinha sendo vítima de racismo por parte do professor Cloves Saraiva, responsável por ministrar a disciplina de Cálculo Vetorial.

O professor, segundo Nuhu, o teria humilhando sistematicamente na frente de todos os alunos da turma, com frases do tipo 'Somos de mundos diferentes'; 'Aqui é diferente da África, somos civilizados'; 'Com quantas onças você já brigou na África?', entre outras expressões. Em decorrência desse suposto comportamento racista do professor, colegas de turma de Nuhu elaboraram um abaixo-assinado, que foi divulgado na internet e já está com a reitoria da Ufma.

Nuhu Ayuba contou ao JP que está em São Luís há três meses. Ele veio para o Brasil por meio do Programa de Estudantes - Convênio de Graduação (PEC-G), administrado pelo Ministério das Relações Exteriores, por meio da Divisão de Temas Educacionais, e pelo Ministério da Educação, em parceria com instituições de Ensino Superior em todo o país.

O nigeriano disse que as humilhações começaram na segunda semana de curso. 'Nunca discuti ou questionei o professor porque no meu país aprendi que não devemos desrespeitar ou alterar a voz com os mais velhos. Por isso, ouvi tudo calado. Ele falou do meu país, da minha cor e por mais que a maioria tirasse notas baixas, apenas a minha era lida em voz alta', afirmou.

'Quando cheguei à sala, mal sentei e o professor me perguntou com quantas onças já briguei na África. Disse ainda que no meu país as pessoas vivem brigando, diferentemente do Brasil. Com o psicológico abalado, não consegui me concentrar na prova e acabei tirando nota baixa. Já acionei um advogado e vou processar o professor por sua prática racista. Ele precisa respeitar as pessoas', afirmou Nuhu ao JP.

'Grande brincadeira' - Também ouvido pelo JP, o professor Cloves Saraiva, que já ocupa a função há 33 anos, disse que alguns comentários feitos em sala de aula foram irrelevantes e todos 'em tom de brincadeira'. O docente disse que jamais praticaria racismo contra alguém que é negro como ele próprio. 'Sou negão, como posso atacar meu irmão. Foi tudo uma grande brincadeira. Se ele se sentiu menosprezado e desrespeitado, peço desculpas e me proponho inclusive a me retratar publicamente, se necessário', declarou o professor.

O coordenador do PEC-G, Manoel Barros, disse que a Ufma conta com 22 alunos intercambistas, sendo 12 só da África, provenientes do convênio brasileiro com 48 países latino-americanos e africanos.

Barros disse que racismo é 'algo lamentável e hediondo' e disse que também procurou o reitor da universidade para tratar do caso. Agora, aguardará pelo resultado do processo administrativo que será aberto para averiguação da situação.

Já a pró-reitora de Recursos Humanos, Maria Elisa Cantanhede, informou que o reitor da Ufma, Natalino Salgado, não só abriu processo administrativo disciplinar como também comunicou o fato ao Ministério Público.

Veja a seguir as matérias sobre o assunto, publicadas nos portais da Rede Globo (G1), da Folha de S. Paulo (Folha Online) e de O Estado de S. Paulo (Estadão Online), e a íntegra do abaixo-assinado dos alunos da Ufma divulgado na internet (www.peticaopublica.com.br), que hoje (5) pela manhã já registrava quase 4.500 assinaturas.

UFMA vai apurar denúncias de racismo de professor contra aluno nigeriano

Da Folha Online

A Universidade Federal do Maranhão (Ufma) anunciou na segunda-feira (4) que abriu processo administrativo para investigar suposto caso de racismo de um professor contra um aluno nigeriano.

Segundo estudantes do curso de Engenharia Química, Nuhu Ayuba sofreu agressões verbais do professor José Cloves Verde Saraiva, 57, do Departamento de Matemática, por ser africano e negro.

Os colegas de Ayuba criaram um abaixo-assinado na internet denunciando as supostas ofensas sofridas por ele e pedindo o afastamento do docente. Até a madrugada de terça-feira (5), 4.237 pessoas já haviam participado do manifesto.

De acordo com a descrição do abaixo-assinado, publicado no site Petição Pública, "por mais de uma vez o professor interpelou nosso colega dizendo que deveria voltar à África" e que "deveria clarear a sua cor". O documento diz, ainda, que Ayuba está "psicologicamente abalado".

Ainda segundo o manifesto, o professor falou ao nigeriano que "aqui [no Brasil], diferente da África, somos civilizados". O texto ressalta que Ayuba nunca respondeu às supostas declarações do docente.

Em nota, o reitor da Ufma, Natalino Salgado, afirmou que além de instaurar processo interno, solicitou ao Ministério Público que também investigue o caso.

No mesmo comunicado, a universidade diz que Saraiva "pede desculpas à interpretação de ocorrências que teriam ofendido o estudante".

Já o docente afirmou ao site da Ufma que "houve um mal entendido" e que não teve intenção de discriminar Ayuba.

Alunos pedem afastamento de professor suspeito de racismo

Professor da Universidade Federal teria ofendido um estudante nigeriano.

Do G1, com informações
do Jornal da Globo

Alunos da Universidade Federal do Maranhão fizeram um abaixo-assinado na internet. Já são mais de 4,5 mil pessoas pedindo o afastamento de um professor suspeito de racismo pelos alunos do curso de engenharia química.

'Se você usa seu poder para, de alguma forma, inferiorizar o ser humano você está sendo preconceituoso e não está tendo a postura que um professor deveria ter', diz a universitária Loydi Santos.

As ofensas teriam sido dirigidas ao estudante nigeriano Nuhu Ayuba. 'Tem um dia que eu tirei nota baixa e ele falou que tenho que voltar para a África. Outro dia, ele disse que somos de mundos diferentes, aqui são civilizados. Aí eu me senti muito mal', diz Ayuba.

Nuhu Ayuba abriu um processo criminal contra o professor, que tentou justificar seus comentários. 'Mesmo que você seja negro, mas você tem que ter aquelas maneiras dentro da sua formação acadêmica, dentro do seu dia a dia; aquela maneira de mostrar o seu valor independente de qualquer raça ou espécie', afirma o professor Jorge Clóvis Verde Saraiva.

Repórter: O senhor não acha que esse tipo de comentário já não é preconceituoso? 'Mesmo que seja negro'?

Professor Cloves: Com essa conotação assim, mais árdua, mais dura... Aí fica uma coisa... Entendeu? – fala o professor.

Em nota, o reitor da universidade disse que, se confirmadas as denúncias, o comportamento do professor será considerado lamentável e vergonhoso. Afirmou ainda que abriu um processo interno para investigar em detalhes o que aconteceu e pediu ao Ministério Público que também entre no caso.

Alunos acusam professor da Ufma de racismo

Do Estadão Online

A Universidade Federal do Maranhão (Ufma) solicitou abertura de um processo administrativo disciplinar para apurar denúncias de racismo contra um professor da instituição. Alunos do curso de Engenharia Química apontam atos de discriminação do professor José Cloves Verde Saraiva contra o aluno africano Nuhu Ayuba, inscrito na disciplina Cálculo Vetorial. Saraiva já pediu desculpas e disse que a situação foi um mal-entendido. Uma cópia da denúncia foi entregue ao Ministério Público Federal.

"Informamos que o professor Cloves Saraiva vem sistematicamente agredindo nosso colega de turma Nuhu Ayuba, humilhando-o na frente de todos", afirmam os alunos na petição pública. Segundo os estudantes, o professor teria dito que Ayuba "deveria voltar à África e clarear a sua cor". O relato acrescenta que o intercambista "não retruca" nenhuma das agressões e está "psicologicamente abalado".

Em retratação pública, Saraiva afirma que houve um mal-entendido e pediu desculpas ao estudante Nuhu Ayuba e aos colegas de classe. "Jamais tive intenção discriminatória de qualquer espécie", disse, argumentando que também é descendente de africanos. "Acredito no potencial de todos, e o que exijo como docente é que os estudantes tenham compromisso com o conteúdo da disciplina".

O reitor da Ufma, Natalino Salgado, classificou o ocorrido como "lamentável". "Não partilharemos de atitudes que se caracterizem em retrocesso e vergonha para a nossa sociedade. Os estrangeiros, assim como todos os outros estudantes, têm o nosso apreço e respeito", afirmou o reitor. "Vamos continuar honrando os acordos educacionais e culturais assumidos pela universidade e pelo governo brasileiro com outros países", acrescentou.

Segundo nota divulgada pela reitoria, a Ufma disponibiliza anualmente duas vagas de cada curso, no período diurno, para cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais. Este programa foi desenvolvido pelos ministérios das Relações Exteriores e da Educação, em parceria com universidades públicas.

ABAIXO-ASSINADO DIVULGADO NA INTERNET

Nós, estudantes do curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Maranhão/UFMA, matriculados na disciplina Cálculo Vetorial, informamos que o professor Cloves Saraiva vem sistematicamente agredindo nosso colega de turma Nuhu Ayuba, humilhando-o na frente de todos os alunos da turma.

Na entrega da primeira nota, o professor não anunciou a nota de nenhum outro aluno, apenas a de Nuhu, bradando em voz alta que 'tirou uma péssima nota'. Por mais de uma vez, o professor interpelou nosso colega dizendo que deveria 'voltar à África' e que deveria 'clarear a sua cor'. Em um outro trabalho de sala, o professor não corrigiu, se limitando a rasurar com a inscrição 'está tudo errado' e ainda faz chacota com a pronúncia do nome do colega relacionando com o palavrão 'no cu'. Disse que o colega é péssimo aluno por que 'somos de mundos diferentes' e que 'aqui é diferente da África, somos civilizados', inclusive perguntando 'Com quantas onças você já brigou na África?'.

Nuhu não retruca nenhuma das agressões e está psicologicamente abalado, motivo pelo qual solicitamos que esta instituição tome as providências que a lei requer para o caso.

Favor divulgar em todas as redes, pois o que está acontecendo aqui [na Ufma] é comum em outras instituições.

Fonte: Jornal Pequeno
Edição: Cícero Ferraz

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